Entenda o que é e como ocorre.
O Complexo de Édipo é uma das mais importantes conceituações de Sigmund Freud, e mesmo sendo um conhecimento de quase 130 anos, ainda é incompreendida pelo público em geral.
Este artigo visa aproximar o leitor comum um pouco mais deste universo conceitual que norteia a prática psicanalítica.
Baseado na obra Édipo Rei é um mito clássico na História da Filosofia, tragédia escrita por Sófocles por volta de 427 a.C, portadora de elementos cruciais para compreendermos o romance familiar e seus desdobramentos, Freud utiliza este mito para explicar a conformação do amor dos filhos pelos pais.
Leia abaixo uma das versões deste mito:
Laio, rei da cidade de Tebas na Grécia antiga, casado com Jocasta, foi advertido pelo oráculo de que não poderia gerar filhos.
O casal desobedece ao mandamento e sentindo culpa, Laio ouve do oráculo que ele será morto pelo próprio filho, que tomará seu lugar ao trono e se casará com a mãe.
Laio arrepende-se de sua desobediência, mas não consegue assassinar o próprio filho, então, abandonou a criança em uma montanha com os tornozelos furados para que o odor do sangue atraísse predadores, ou por conta da hemorragia ela morresse. A ferida nos tornozelos da criança deu origem ao nome Édipo, que significa pés inchados.
A criança foi encontrada por pastores que passavam pelo local com seus rebanhos e levaram a criança machucada a Polibo, o rei de Corinto, este que o criou como filho legítimo.
Édipo cresce e se torna um homem forte, quando adulto vai consultar o oráculo de Delfos para saber o seu destino. Segundo o oráculo seu destino era matar o pai e se casar com a mãe.
Apavorado com o que ouviu, foge da cidade de Corinto e vai em direção a Tebas. No meio do caminho, se encontra com Laio que ordena a ele que abra caminho para ele passar.
Édipo não atende a ordem do rei e lutarão até que Édipo por fim, matará Laio, sem saber que o homem que havia matado era seu legítimo pai, Édipo prossegue sua viagem.
No caminho, encontra-se com a Esfinge, um monstro metade leão, metade mulher, que atormentava o povo tebano, pois lançava enigmas e devorava quem não os decifrasse.
O enigma proposto pela esfinge a Édipo foi o seguinte:
Qual é o animal que de manhã tem quatro pés, dois ao meio dia e três à tarde?
Ele pensa por alguns instantes e responde que era o homem, pois na manhã da vida (infância) engatinha com pés e mãos, ao meio-dia (idade adulta) anda sobre dois pés e à tarde (velhice) precisa das duas pernas e de uma bengala.
A Esfinge ficou furiosa por ter sido decifrada e se matou. Por ter livrado a cidade de Tebas deste monstro terrível, o povo que havia perdido seu rei, decide coroar Édipo como seu novo rei, e entrega-lhe Jocasta como esposa.
Passadas as festas de comemoração, uma violenta peste atingiu a cidade de Tebas e Édipo, vai novamente consultar o oráculo para compreender o que deve ser feito.
O oráculo responde que a peste não teria fim enquanto o assassino de Laio não fosse castigado.
É neste momento que Édipo compreende toda a verdade, ele descobre que matou o próprio pai e que estava casado com sua mãe.
Por ser insuportável tal verdade, e sendo necessário a punição, Édipo cegou-se e vagou errante pela vida e Jocasta enforcou-se.
Sigmund Freud, amante das obras clássicas, percebe em sua clínica que os relatos de suas pacientes histéricas, revelavam um amor pelos pais que se assemelhavam ao amor de ordem conjugal, isto o faz relembrar a tragédia de Édipo Rei que estava fadado a matar o próprio pai e casar-se com a mãe.
Ao analisar em suas pacientes os conteúdos neuróticos, foi ficando cada vez mais claro, que geralmente, a criança nutria grande amor pelo genitor de sexo oposto e rivalizava este amor com o outro genitor.
Na vida adulta, Freud percebeu que o menino que nutria fortes sentimentos por sua mãe, tinha a tendência a se casar com uma mulher com características muito semelhantes a sua mãe, é neste ponto que “ estava fadado a casar-se com a sua mãe” se encaixa, o mesmo ocorria com as mulheres que nutriam fortes sentimentos pelo pai e na vida adulta, se casavam com homens com características semelhantes a ele, a partir disso, Freud irá estudar este fenômeno de perto e o batizou como Complexo de Édipo quando ocorre com meninos e Complexo de Electra quando ocorre nas meninas.
O Complexo de Édipo pode ser entendido como um conjunto de desejos amorosos e hostis, que uma criança experimenta em relação aos seus pais.
Em sua forma positiva, o complexo é semelhante à história do mito, ou seja, desejo da morte do rival que é a pessoa do mesmo sexo e desejo sexual pela personagem do sexo oposto.
Em sua forma negativa, apresenta-se de forma inversa, ou seja, raiva do sexo oposto e amor pelo mesmo sexo.
Este complexo é vivido entre os três e os cinco anos de idade e desempenha um papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo.
O Complexo de Édipo portanto, teoriza sobre as primeiras relações objetais de um indivíduo, ou seja, o abandono do narcisismo primário e a busca da satisfação do desejo no mundo exterior.
A forma como esta busca será resolvida dentro do triângulo amoroso estabelecido entre filho(a), pai e mãe moldará o indivíduo em suas relações afetivas, escolhas sexuais e servirá de molde para seu convívio social por toda a sua existência.
Esta estrutura alimentará o surgimento de todas as neuroses (angústia, ansiedade, compulsão, obsessão, fobias...) reinantes em um indivíduo, inclusive o surgimento de quadros psicóticos.
Ao entrar no Complexo de Édipo, entre os 3 e 4 anos de idade (o início da fase fálica), a criança se vê criando e participando de um triângulo amoroso Mãe/Pai/Filho(a).
O menino direciona seu desejo e suas pulsões para a mãe, reivindicando sua posse exclusiva e rivaliza com o pai por esta posse.
A menina direciona seu desejo e suas pulsões para o pai, reivindicando sua posse exclusiva e rivaliza com a mãe por esta posse.
Desde os tempos mais remotos da história da civilização a sociedade criou leis que garantissem a vida social. A mais importante delas trata do incesto, ou seja, a proibição do amor conjugal entre pais e filhos.
Ou seja, o filho(a) não terá acesso a mãe e não poderá tê-la como esposa, a filha(o) não terá acesso ao pai e não poderá tê-lo como seu marido.
Se o filho(a) é impedido de realizar seu desejo de possuir pai ou mãe fica claro que o Édipo não se encaminhará para a solução que se podia esperar.
Na verdade, a resolução para o Édipo, graças a interdição do incesto e a frustração proveniente disso levará a criança a:
- Dessexualização dos pais
- A busca substitutiva em objetos fora da família
- A definição do objeto de prazer
- Demanda a cristalização do Superego
Freud escreve especificamente sobre o Édipo em 1897, em sua correspondência ao amigo alemão Fliess e, mais tarde, retoma o tema em 1924, em um texto chamado “A dissolução do Complexo de Édipo”.
Podemos dizer que a explicação do Complexo de Édipo é fruto do imaginário europeu do século XIX contextualizado na cultura presente na Áustria monárquica e conservadora.
O modelo de família predominante portanto era aquele onde:
O pai era a figura dominante (poder fálico) e a mãe era a guardiã do lar, responsável pelos filhos e totalmente submissa ao marido, por sua vez, os filhos (menino ou menina) eram submissos aos dois e enxergavam na figura paterna a expressão máxima de poder.
O Édipo surge quando a criança entra na fase fálica, ou seja, o desenvolvimento da libido se orienta principalmente para os órgãos genitais.
No menino o pênis, na menina a vagina (clitóris), esta região passa a ser a principal fonte de prazer para a criança, ela passa a valorizar o órgão, tornando-o sua fonte de orgulho e, ao mesmo tempo, o que ela teme perder.
O pênis é mais que um apêndice corporal, ele é o representante fantasioso do potencial da criança em preencher a mãe. Isso acontece tanto no menino quanto na menina.
Todo o Complexo de Édipo, desde o seu surgimento até sua resolução, é um processo sustentado pela fantasia infantil que é barrada pela realidade da interdição do incesto.
Durante o Édipo a criança convive com o desejo de possuir e ao mesmo tempo com o medo da punição caso seja descoberta.
As duas etapas do Édipo se resumem a:
- A sexualização dos pais (desejo)
- A dessexualização dos pais (frustração)
Ao longo deste caminho a criança:
- Deseja (pulsiona Vida e Morte)
- Fantasia (cria situações para dar vazão ao desejo)
- Identifica (lida com a frustração)
O desejo se expressa no impulso de possuir (pai ou mãe), no desejo de ser possuído (pelo pai ou mãe) e no desejo de destruir (pai ou mãe).
A fantasia se expressa na onipotência fálica, nas fantasias de prazer que satisfazem o desejo incestuoso e nas fantasias de angústia no menino e de sofrimento na menina.
A identificação é o momento em que a criança toma consciência de que não realizará seus desejos e então decide introjetar em si as características do objeto (isso acontece de forma diferente na menina e no menino).
Desta forma podemos dizer que o Édipo se resume a:
Desejos - Nascimento do Édipo
Fantasias - Apogeu de Édipo
Identificação - Declínio do édipo
O que advém ao Complexo de Édipo é um período de latência, dominado pelo Superego, que será interrompido na puberdade quando o desejo volta a reinar, mas desta vez dirigido a objetos que não são pai e mãe e seguindo as regras do Superego.
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